19 outubro, 2019

Uma carta ao Amor

Amado Amor,

Por que andas tão envergonhado, assustado e inibido?
Ao te ver acuado pelos cantos fico a me perguntar: Cade tua coragem?
Sinto falta do teu romantismo, da tua força, tua decisão. Houve um tempo em que te mostravas ousado e não hesitavas em se manifestar, escrever cartas, fazer serenatas, gritar dançando na chuva...

Confesso que não gosto muito dessa nova forma de “cutucar” e dessa rapidez com que mostra o sexo e a nudez. A atitude  audaciosa de ficar nu na primeira noite, ao passo em que hesitas revelar em palavras qualquer sentimento. Com medo do que vão pensar?

Corpos nus em oposição aos sentimentos tão bem vestidos e maquiados.
Por favor, querido, remova as máscaras em seu rosto.

Grande Amor,
Era tão bom aquele tempo que choravas diante de mim cantando desafinado nossa música favorita 
ou declamando nosso poema de cabeceira.

Hoje pareces tão arredio... as vezes tão bravo
não sabes o que sente, o que quer
Cheio de dúvidas sobre o eterno e o efêmero

Mesmo assim,
Eu ainda sonho contigo
Ainda acredito que ressurgirás e mostrarás que sem você a vida não tem cor, som, sabor...

Ainda te quero
Eu te quero Amor
Te quero de volta... te quero intenso... te quero corajoso, declarante, vivo
Te quero azul
Vermelho
Quente
Te quero ousado
Te quero evidente
Eu te quero ver pulsando, correndo...
Faça meu olhar brilhar novamente
Grite sua existência
Inunda-me com tua essência
E faça transbordar o sentimento de fazer bem...
Nada vai me fazer desistir de você.



Memória

Tenho no meu corpo a memória do prazer dos encontros...
o olho no olho
o abraço
o cheiro
o toque dos lábios que apenas se encostam e se  sentem, lentamente
a dança
a boca molhada que devora os sexos
a penetração...

Tenho no meu corpo a memória do desejo que experimenta
que morde
que devora o corpo nu
que chama pelo nome...

A memória do sussurro
O sabor do suor
da saliva
da beleza do falo
E da sua intensidade

O encontro sagrado e profano do acaso
da surpresa
do medo e da coragem
da dúvida e da certeza